Perto da aldeia de New York Mills, no século dezenove, havia uma fábrica de
tecidos movida pela força das águas do rio Oriskany. Certa manhã, os operários
se achavam comovidos, conversando sobre o poderoso culto da noite anterior,
no prédio da escola pública.
Não
muito depois de começar o ruído das máquinas, o pregador, um rapaz alto e
atlético, entrou na fábrica. O poder do Espírito Santo ainda permanecia sobre
ele; os operários, ao vê-lo, sentiram a culpa de seus pecados a ponto de terem
de se esforçar para poderem continuar a trabalhar. Ao passar perto de duas
moças que trabalhavam juntas, uma delas, no ato de emendar um fio, foi tomada
de tão forte convicção, que caiu em terra, chorando. Segundos depois, quase
todos em redor tinham lágrimas nos olhos e, em poucos minutos, o avivamento
encheu todas as dependências da fábrica.
O diretor, vendo que os operários não podiam trabalhar, achou
que seria melhor cuidassem da salvação da al-ma, e mandou que parassem as máquinas. A comporta das
águas foi fechada e os operários se ajuntaram em um salão do edifício. O
Espírito Santo operou com grande poder e dentro de poucos dias quase todos se
converteram.
Diz-se acerca deste pregador, que se chamava Carlos Finney, que, depois de
ele pregar em Governeur, no Estado de New York, não houve baile nem representação de
teatro na cidade durante seis anos. Calcula-se que, durante os anos de 1857 e
1858, mais de 100 mil pessoas foram ganhas para Cristo pela obra direta e
indireta de Finney. A sua autobiografia é o mais maravilhoso relato de
manifestação do Espírito Santo, excetuando o livro de Atos dos Apóstolos.
Alguns consideram o seu livro, "Teologia Sistemática", a maior obra
sobre teologia, a não ser as Sagradas Escrituras.
- Como se explica o seu êxito tão destacado nos anais dos servos da Igreja de Cristo?
- Sem dúvida era, antes de tudo, o resultado da sua profunda conversão.
Nasceu de uma família descrente e se criou em um lugar onde os membros da
igreja conheciam, apenas, a formalidade fria dos cultos. Finney era advogado;
ao encontrar, nos seus livros de jurisprudência, muitas citações da Bíblia
comprou um exemplar com a intenção de conhecer as Escrituras. O resultado foi
que, após a leitura, achou mais e mais interesse nos cultos dos crentes. Acerca
da sua conversão ele relata, na sua autobiografia, o seguinte:
"Ao ler a Bíblia, ao assistir às reuniões de oração, e ouvir os sermões
de senhor Gale, percebi que não me achava pronto a entrar nos céus... Fiquei
impressionado especialmente com o fato de as orações dos crentes, semana após
semana, não serem respondidas. Li na Bíblia: 'Pedi e dar-se-vos-á; buscai, e
encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á'. Li, também, que Deus é mais pronto a
dar o Espírito Santo aos que lho pedirem, do que os pais terrestres a darem
boas coisas aos filhos. Ouvia os crentes pedirem um derramamento do Espírito
Santo e confessarem, depois, que não o receberam.
"Exortavam uns aos outros a se despertarem para pedir, em oração, um derramamento do
Espírito de Deus e afirmavam que assim haveria um avivamento com a conversão de pecadores... Mas ao
ler mais a Bíblia, vi que as orações dos crentes não eram respondidas porque
não tinham fé, isto é, não esperavam que Deus lhes daria o que pediam...
Entretanto, com isso senti um alívio acerca da veracidade do Evangelho... e
fiquei convicto de que a Bíblia, apesar de tudo, é a verdadeira Palavra de
Deus.
"Foi num domingo de 1821 que assentei no coração resolver o problema
sobre a salvação da minha alma e ter paz com Deus. Apesar das minhas grandes
preocupações como advogado, resolvi seguir rigorosamente a determinação de ser
salvo. Pela providência de Deus, não me achei muito ocupado nem segunda nem
terça-feira, e consegui passar a maior parte do tempo lendo a Bíblia e orando.
"Mas ao encarar a situação resolutamente, achei-me sem
coragem para orar sem tapar o buraco da fechadura. Antes deixava a Bíblia
aberta na mesa com os outros livros e não me envergonhava de lê-la diante do
próximo. Mas então, se entrasse alguém, eu colocaria um livro aberto sobre a
Bíblia para escondê-la.
"Durante a segunda e a terça-feira, a minha convicção
aumentou, mas parecia que o coração se havia endurecido: eu não podia chorar,
nem orar... Terça-feira, à noite, senti-me muito nervoso e parecia-me estar
perto da morte. Reconhecia que, se eu morresse, por certo iria para o Inferno.
"De manhã cedo, fui para o gabinete... Parecia que uma voz me
perguntava: - 'Por que esperas? Não prometes-te dar o coração a Deus? O que
experimentas fazer? - alcançar a justificação pelas obras?' Foi então que vi,
claramente, como qualquer vez depois, a realidade e a plenitude da
propiciação de Cristo. Vi que sua obra era completa e, em vez de eu necessitar
duma justiça própria para Deus me aceitar, tinha de sujeitar-me à justiça de
Deus por intermédio de Cristo... Sem o saber, fiquei imóvel, não sei por
quanto tempo, no meio da rua, no lugar onde a voz de dentro se dirigiu a mim.
Então me veio a pergunta: - 'Aceitá-lo-ás, agora, hoje?' Repliquei: -
'Aceita-lo-ei hoje ou me esforçarei para isso até morrer...' Em vez de ir ao
gabinete, voltei para entrar na floresta, onde podia derramar a alma sem alguém
me ver nem me ouvir."Porém, o meu orgulho continuava a se manifestar; passei por cima
dum alto e andei furtivamente atrás duma cerca, para que ninguém me visse, e
pensasse que ia orar. Penetrei dentro da mata cerca de meio quilômetro, onde
achei um lugar mais escondido entre algumas árvores caídas. Ao entrar, disse a
mim mesmo: 'Entregarei o coração a Deus, ou então não sairei daqui'.
"Mas ao tentar orar, o coração não queria. Pensara que, uma vez
sozinho, onde ninguém pudesse ouvir-me, podia orar livremente. Porém, ao
experimentar fazê-lo, achei-me sem coisa alguma a dizer a Delis. Toda a vez que
tentava orar, parecia-me ouvir alguém chegando.
"Por fim, achei-me quase em desespero. O coração estava morto para
com Deus e não queria orar. Então reprovei-me a mim mesmo por ter-me
comprometido a entregar o coração a Deus antes de sair da mata. Comecei a
pensar que Deus já me tivesse abandonado... Achei-me tomado de uma fraqueza
demasiadamente grande para ficar de joelhos.
"Foi justamente nessa altura que pensei novamente que ouvia alguém se aproximando e abri
os olhos para ver. Logo foi-me revelado que o orgulho do meu coração era a
barreira entre mim e a minha salvação. Fui vencido pela convicção do grande
pecado de eu envergonhar-me se alguém me encontrasse de joelhos perante Deus,
e bradei em alta voz que não abandonaria o lugar, nem que todos os homens da
terra e todos os demônios do Inferno me cercassem. Gritei: 'Ora, um vil
pecador como eu, de joelhos perante o grande e santo Deus, e confessando-lhes
os pecados, e me envergonho dele perante o próximo, pecador também, porque me
encontro de joelhos para achar paz com o meu Deus ofendido!' O pecado
parecia-me horrendo, infinito. Fiquei quebrantado até o pó perante o Senhor.
Nessa altura, a seguinte passagem me iluminou: 'Então me invocareis, e ireis, e
orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me
buscardes de todo o vosso coração...'
"Continuei a orar e a receber promessas e a apropriar-me delas, não sei por quanto tempo.
Orei até que sem saber como, achei-me voltando para a estrada. Lembro-mede que disse a mim
mesmo: 'Se eu me converter, pregarei o Evangelho'.
"Na estrada, voltando para a aldeia, certifiquei-me da preciosa paz e
da gloriosa calma na minha mente. - 'Que é isso?' Perguntei-me a mim mesmo. -
'Entristecera eu o Espírito Santo até retirar-se de mim? Não sinto mais convicção...'
Então lembrei-me de que dissera a Deus, que confiaria na sua Palavra... A calma
de meu espírito era indescritível... Fui almoçar, mas não tinha vontade de comer.
Fui ao gabinete, mas meu sócio não voltara do almoço. Comecei a tocar a música
de um hino no rebecão, como de costume. Porém, ao começar a cantar as palavras
sagradas, o coração parecia derreter-se e só podia chorar...
"Ao entrar e fechar a porta atrás de mim, parecia-me ter encontrado
o Senhor Jesus Cristo face a face. Não me entrou na mente, na ocasião, nem por
algum tempo depois, que era apenas uma concepção mental. Ao contrário,
parecia-me que eu o encontrara como encontro qualquer pessoa. Ele não disse
coisa alguma, mas olhou para mim de tal forma, que fiquei quebrantado e
prostrado aos seus pés. Isso, para mim, foi, depois, uma experiência extraordinária,
porque parecia-me uma realidade, como se Ele mesmo ficasse em pé perante mim, e
eu me prostrasse aos seus pés e lhe derramasse a minha alma. Chorei alto e fiz
tanta confissão quanto foi possível, entre soluços. Parecia-me que lavava os
seus pés com as minhas lágrimas; contudo, sem sentir ter tocado na sua
pessoa...
"Ao virar-me para me sentar, recebi o poderoso batismo com o Espírito Santo. Sem o
esperar, sem mesmo saber que havia tal para mim, o Espírito Santo desceu de tal
maneira, que parecia encher-me corpo e alma. Senti-o como uma onda elétrica
que me traspassava repetidamente. De fato, parecia-me como ondas de amor
liquefeito; porque não sei outra maneira de descrever isso. Parecia o próprio
fôlego de Deus.
"Não existem palavras para descrever o maravilhoso amor
derramado no meu coração. Chorei de tanto gozo e amor que senti; acho
melhor dizer que exprimi, chorando em alta voz, as inundações indizíveis do meu
coração. As ondas passaram sobre mim, uma após outra, até eu clamar: 'Morrerei, se
estas ondas continuarem a passar sobre mim!.Senhor, não suporto mais!' Contudo,
não receava a morte.
"Não sei por quanto tempo este batismo continuou a passar sobre
mim e por todo o meu ser. Mas sei que era já noite quando o dirigente do coro
veio ao gabinete para me visitar. Encontrou-me nesse estado de choro aos gritos
e perguntou: - 'Sr. Finney, que tem?' Por algum tempo não pude responder-lhe.
Então ele perguntou mais: - 'Está sentindo alguma dor?' Com dificuldade
respondi: - Não, mas sinto-me demasiado feliz para viver.
"Saiu e, daí a pouco, voltou acompanhado por um dos anciãos da igreja.
Esse ancião sempre foi um homem de espírito ponderado e quase nunca ria. Ele,
ao entrar, encontrou-me no mesmo estado, mais ou menos, como quando o rapaz o
foi chamar. Queria saber o que eu sentia e eu comecei a lhe explicar. Mas, em
vez de responder-me, foi tomado de um riso espasmódico. Parecia impossível
evitar o riso que procedia do fundo do seu coração."
Nessa altura, entrou certo rapaz que começara a freqüentar os cultos da
igreja. Presenciou tudo por alguns momentos, até cair ao chão em grande
angústia de alma, clamando: "Orem por mim!"
O ancião da igreja e o outro crente oraram e depois Finney também
orou e logo após todos se retiraram deixando Finney sozinho.
Ao deitar-se para dormir, Finney adormeceu, mas logo se acordou, por causa
do amor que lhe transbordava do coração. Isso aconteceu repetidas vezes
durante a noite. Sobre isso ele escreveu depois:
"Quando me acordei, de manhã, a luz do sol penetrava no quarto.
Faltam-me palavras para exprimir os meus sentimentos ao ver a luz do sol. No
mesmo instante, o batismo do dia anterior voltou sobre mim. Ajoelhei-me ao lado
da cama e chorei pelo gozo que sentia. Passei muito tempo sem poder fazer coisa
alguma senão derramar a alma perante Deus".
Durante o dia, o povo se ocupava em falar na conversão do advogado. Ao
anoitecer, sem qualquer anúncio do culto, ajuntou-se uma multidão no templo.
Quando Finney relatou
o que Deus fizera na sua alma, muitos foram profundamente comovidos; um,
sentiu-se tão convicto que voltou a casa sem o chapéu. Certo advogado afirmou:
"É claro que ele é sincero; mas que enlouqueceu, é evidente." Finney
falou e orou com grande liberdade. Realizavam-se cultos todas as noites por
algum tempo, aos quais assistiam pessoas de todas as classes. Esse grande avivamento
espalhou-se para muitos lugares em redor.
Finney
continuou:
"Por
oito dias [depois da sua conversão) o meu coração permanecia tão cheio, que
não sentia desejo de comer nem de dormir. Parecia-me que tinha um manjar para
comer que o mundo não conhecia. Não sentia necessidade de alimentar-me nem de
dormir... Por fim, cheguei a ver que devia comer como de costume e dormir
quanto fosse possível.
"Grande
poder acompanhava a Palavra de Deus; todos os dias admirava-me ao notar como
poucas palavras, dirigidas a uma pessoa, traspassavam-lhe o coração como uma
seta.
"Não
demorei muito em ir visitar meu pai. Ele não era salvo; o único membro da
família que fizera profissão de religião era meu irmão mais novo. Meu pai
encontrou-me no portão e me perguntou: - 'Como tem passado, Carlos?'
Respondi-lhe: - Bem, meu pai, tanto no corpo como na alma. Meu pai, o senhor
já é idoso, todos os seus filhos estão crescidos e casados; e nunca ouvi alguém
orar na sua casa. Ele baixou a cabeça e começou a chorar, dizendo: - 'É verdade,
Carlos; entre, e você mesmo ore'.
"Entramos
e oramos. Meus pais ficaram comovidos e, não muito depois, converteram-se. Se a
minha mãe tinha qualquer esperança antes, ninguém o sabia".
Assim,
esse advogado, Carlos G. Finney, perdeu todo o gosto pela sua profissão e se
tornou um dos mais famosos pregadores do Evangelho. Acerca de seu método de
trabalhar, ele escreveu:
"Dei
grande ênfase à oração como indispensável, se realmente queríamos um
avivamento. Esforçava-me por ensinar a propiciação de Jesus Cristo, sua
divindade, sua missão divina, sua vida perfeita, sua morte vicária, sua
ressurreição, a necessidade de arrependimento e de fé, a justificação pela fé,
e outras doutrinas que se tornaram vivas pelo poder do Espírito Santo.
"Os
meios empregados eram simplesmente pregação, cultos de oração, muita oração em
secreto, intensivo evangelismo pessoal e cultos para a instrução dos
interessados.
"Eu
tinha o costume de passar muito tempo orando; acho que, às vezes, orava
realmente sem cessar. Achei, também, grande proveito em observar
freqüentemente dias inteiros de jejum em secreto. Em tais dias, para ficar
inteiramente sozinho com Deus, eu entrava na mata, ou me fechava dentro do
templo..."
Vê-se
no seguinte, a maneira como Finney e seu companheiro de oração, o irmão Nash,
"bombardeavam" os céus com as suas intercessões:
"Quase
um quilômetro distante da residência do senhor S, morava certo adepto do
universalismo. Nos seus preconceitos religiosos, recusava-se a assistir aos
cultos. Certa vez o irmão Nash, que se hospedava comigo na casa do senhor S,
retirou-se para dentro da mata para lutar em oração, sozinho, bem cedo de
madrugada, conforme seu costume. A atmosfera era tal nessa ocasião que se ouvia
qualquer som de longe. O universalista ao levantar-se, de madrugada, saiu de
casa e ouviu a voz de quem orava, e, apesar de não compreender muitas das
palavras, reconheceu quem orava. E isso traspassou-lhe o coração como uma
flecha. Sentiu a realidade da religião como nunca. A flecha permanecia. E ele
achou alívio somente crendo em Cristo".
Acerca
do espírito de oração, Finney afirmou que "era coisa comum nesses
avivamentos, os recém-convertidos se acharem tomados pelo desejo de orar noites
inteiras até lhes faltarem as forças físicas. O Espírito Santo constrangia
grandemente o coração dos crentes, e sentiam constantemente a responsabilidade
pela salvação das almas imortais. A solenidade da mente se manifestava no
cuidado com que falavam e se comportavam. Era muito comum encontrar crentes
juntos caídos de joelhos em oração em vez de ocupados em palestras".
Em
certo tempo, quando as nuvens de perseguição enegreciam cada vez mais, Finney,
como era seu costume sob tais circunstâncias, sentia-se dirigido a dissipá-las,
orando. Em vez de falar pública ou particularmente acerca das acusações, ele
orava. Acerca da sua experiência escreveu: "Eu olhava para Deus com grande
anelo, dia após dia, rogando que Ele me mostrasse o plano a seguir e a graça
para suportar a borrasca... O Senhor mostrou-me, em uma visão, o que eu tinha
de enfrentar. Ele chegou-se tão perto de mim, enquanto eu orava, que a minha
carne literalmente estremecia sobre os ossos. Eu tremia da cabeça aos pés, sob
o pleno conhecimento da presença de Deus".
Acrescentamos
mais um exemplo, tirado da sua autobiografia, da maneira de o Espírito Santo
operar na sua pregação:
"Ao
chegar, na hora anunciada para iniciar o culto, achei o prédio da escola
repleto e tinha de ficar em pé perto da entrada. Cantamos um hino, isto é, o
povo pretendia cantar. Entretanto, eles não tinham o costume de cantar os hinos
de Deus, e cada um desentoava à sua própria maneira. Não podia conter-me e
lancei-me de joelhos e comecei a orar. O Senhor abriu as janelas dos céus,
derramou o espírito de oração e entreguei-me de toda a alma a orar.
"Não
escolhera um texto, mas logo ao levantar-me dos joelhos, eu disse:
Levantai-vos, saí deste lugar, porque o Senhor há de destruir a cidade .
Acrescentei que havia dois homens, um se chamava Abraão, e outro, Ló...
Contei-lhes como Ló se mudara para Sodoma... O lugar era excessivamente
corrupto... Deus resolveu destruir a cidade e Abraão orou por Sodoma. Mas os
anjos acharam somente um justo lá, era Ló. Os anjos disseram: 'Tens alguém mais
aqui? Teu genro, e teus filhos, e tuas filhas, e todos quantos tens nesta
cidade, tira-os fora deste lugar; porque nós vamos destruir este lugar, porque
o seu clamor tem engrossado diante da face do Senhor, e o Senhor nos enviou a
destruí-lo'.
"Ao
relatar estas coisas, os ouvintes se mostraram irados a ponto de me açoitarem.
Nessa altura, deixei de pregar e lhes expliquei que compreendera que nunca se
realizara culto ali e que eu tinha o direito de, assim, considerá-los
corruptos. Salientei isso com mais e mais ênfase e, com o coração cheio de amor
até não poder mais conter-me.
"Depois
de eu assim falar cerca de quinze minutos, parecia cair sobre os ouvintes uma
tremenda solenidade e começaram a cair ao chão, clamando e pedindo
misericórdia. Se eu tivesse tido uma espada em cada mão, não os poderia derrubar
tão depressa como caíram. De fato, dois minutos depois de os ouvintes sentirem
o choque do Espírito vir sobre eles, quase todos estavam ou caídos de joelhos
ou prostrados no chão. Todos os que podiam falar de qualquer maneira, oravam
por si mesmos.
"Tive
de deixar de pregar, porque os ouvintes não prestavam mais atenção. Vi o
ancião que me convidara para pregar, sentado no meio do salão, olhando em
redor, estupefato. Gritei bem alto para ele ouvir, apesar da balbúrdia,
pedindo-lhe que orasse. Caiu de joelhos e começou a orar em voz retumbante; mas
o povo não prestou atenção. Gritei: Vós não estais ainda no Inferno; quero
dirigir-vos a Cristo. O coração transbordava de gozo ao presenciar tal cena.
Quando pude dominar os meus sentimentos, virei-me para um rapaz que estava
perto de mim, consegui atrair a sua atenção e preguei Cristo, em voz bem alta,
ao seu ouvido. Logo, ao olhar para a 'cruz' de Cristo, ele acalmou-se por um
pouco e então rompeu em oração pelos outros. Depois fiz o mesmo com um outro;
depois com mais outro e continuei assim tratando com eles até a hora do culto
da noite, na aldeia. Deixei o ancião que me convidara a pregar, para continuar
a obra com os que oravam.
"Ao
voltar, havia tantos clamando a Deus que não podemos encerrar a reunião, que
continuou o resto da noite. Ao amanhecer o dia, alguns ainda permaneciam com a
alma ferida. Não se podiam levantar e, para dar lugar às aulas, foi necessário
levá-los a uma residência não muito distante. De tarde mandaram chamar-me
porque ainda não findara o culto.
"Só
nesta ocasião cheguei a saber a razão de o auditório agastar-se da mensagem.
Aquele lugar cognominava-se 'Sodoma' e havia somente um homem piedoso lá a quem
o povo tratava de 'Ló'. Era o ancião que me convidara a pregar."Depois de
já velho, Finney escreveu acerca do que o Senhor fez em "Sodoma".
"Embora esse avivamento caísse tão repentinamente sobre eles era tão
empolgante que as conversões eram profundas e a obra permanente e genuína.
Nunca ouvi falar em qualquer repercussão desfavorável."
Não
foi só na América do Norte que Finney viu o Espírito Santo cair e abater os
ouvintes em terra. Na Inglaterra, durante os nove meses de evangelização, que
Finney promoveu lá, multidões também se prostraram enquanto ele pregava - em
certa ocasião mais de dois mil, de uma vez.
Alguns
pregadores confiam na instrução e ignoram a obra do Espírito Santo. Outros, com
razão, rejeitam tal ministério infrutífero e sem graça; oram a Deus para o
Espírito Santo tomar conta e alegram-se no grande progresso da obra de Deus.
Mas, ainda outros, como Finney, dedicam-se a buscar o poder do Espírito Santo,
sem desprezar a arma de instrução, e vêem resultados incrivelmente mais
vastos.
Durante
os anos de 1851 a 1866, Finney foi diretor do Colégio de Oberlin e ensinou a um
total de 20 mil estudantes. Dava mais ênfase ao coração puro e ao batismo com
o Espírito Santo do que à preparação do intelecto; de Oberlin saiu uma
corrente contínua de alunos cheios do Espírito Santo. Assim, depois dos anos
de uma campanha intensiva de evangelismo e no meio dos seus esforços no
colégio, "em 1857, Finney via cerca de 50 mil, todas as semanas,
converterem-se a Deus." (By My Spirit, Jônathan Goforth, p. 183.)
Os diários de New York, às vezes quase não publicavam outras notícias, senão do
avivamento.
Suas
lições aos crentes sobre avivamento foram publicadas, primeiro em um jornal e
depois em um livro de 445 páginas e que se intitulava "Discursos Sobre
Avivamentos". As primeiras duas edições, de 12 mil exemplares, foram vendidas
logo ao saírem do prelo. Outras edições foram impressas em vários idiomas. Uma
só editora em Londres publicou 80 mil. Entre suas outras obras de circulação
mundial, contam-se as seguintes: sua "Autobiografia", "Discursos
aos Crentes" e "Teologia Sistemática".
Os
convertidos nos cultos de Finney eram pela graça constrangidos a andar de casa
em casa para ganhar almas. Ele mesmo se esforçava para preparar o maior número
de obreiros em Oberlin College. Mas o desejo que ardia sempre em tudo era o de
transmitir a todos o espírito de oração. Pregadores como Abel Câry e Father
Nash viajavam com ele e, enquanto ele pregava, eles continuavam prostrados em
oração. Vejamos isso nas palavras de Finney:
"Se
eu não tivesse o espírito de oração, não alcançaria coisa alguma. Se por um
dia, ou por uma hora eu perdesse o espírito de graça e de súplica, não poderia
pregar com poder e fruto, e nem ganhar almas pessoalmente."
Para
que alguém não julgue que a obra era superficial, citamos outro escritor:
"Descobriu-se, por pesquisa empolgante, que mais de 85 pessoas de cada
100 que se convertiam sob a pregação de Finney, permaneciam fiéis a Deus;
enquanto 75 pessoas de cada cem, das que professaram conversão nos cultos de
algum dos maiores pregadores, se desviavam. Parece que Finney tinha o poder de
impressionar a consciência dos homens, sobre a necessidade de um viver santo,
de tal maneira que produzia fruto mais permanente." (Deeper
Experiences of Famous Christians, p. 243.)
Finney
continuou a inspirar os estudantes de Oberlin College até a idade de 82 anos.
Já no fim da vida, permanecia tão lúcido de mente como quando jovem e sua vida
nunca foi tão rica no fruto do Espírito e na beleza da sua santidade do que
nesses últimos anos. No domingo, 16 de agosto de 1875, pregou seu último
sermão. Mas de noite não assistiu ao culto. Ao ouvir os crentes cantarem
"Jesus lover of my soul, let me to Thy bosom fly", saiu até o portão
na frente da casa, e com estes que tanto amava, foi a última vez que cantou na
terra. Acordou-se à meia-noite, sofrendo dores lancinantes no coração. Sofrera
assim muitas vezes durante a sua vida. Semeara as sementes de avivamento e as
regara com lágrimas. Todas as vezes que recebeu o fogo da mão de Deus, foi com
sofrimento. Finalmente, antes de amanhecer o dia, dormiu na terra para acordar
na Glória, nos céus. Faltavam-lhe apenas treze dias para completar 83 anos de
vida aqui na terra.
Um
por um, seus fiéis companheiros de luta, inclusive sua esposa, foram chamados
para o descanso, mas João Wesley continuava a trabalhar. Com a idade de 85
anos, seu irmão, Carlos, foi chamado pelo Senhor e João sentou-se perante a
multidão, cobrindo o rosto com as mãos, para esconder as lágrimas que lhe
corriam pelas faces. Seu ir-mão a quem amava tanto durante tão longo tempo,
partira e ele, agora, tinha de trabalhar sozinho.
Em 2
de março de 1791, com a idade de quase 88 anos, completou a sua carreira
terrestre. Durante toda a noite anterior, não cessaram em seus lábios o louvor
e a adoração, pronunciando estas palavras: "As nuvens distilam a
gordura". Sua alma saltou de alegria com a antecipação das glórias do lar
eterno e exclamou: "O melhor de tudo é que Deus está conosco". Então,
levantando a mão, como se fosse o sinal da vitória, novamente repetiu: "O
melhor de tudo é que Deus está conosco". Às 10 horas da manhã, enquanto
os crentes rodeavam o leito, em oração, ele disse: "Adeus!", e assim
passou para a presença do Senhor.
Um
crente que assistiu à sua morte, assim relatou o ato: "A presença divina
pairava sobre todos nós; não existem palavras para descrever o que vimos no
seu semblante! Quanto mais o fitávamos, tanto mais víamos parte dos indizíveis
céus".
Calcula-se
que dez mil pessoas em desfile passaram diante do ataúde para ver o rosto que
ainda retinha um sorriso celestial. Por causa das grandes massas que afluíram
para honrá-lo, foi necessário enterrá-lo às cinco horas da manhã.
João
Wesley nasceu e criou-se em um lar onde não havia abundância de pão. Com a
venda dos livros da sua autoria ganhou uma fortuna, com a qual contribuía para
a causa de Cristo; ao falecer, deixou no mundo "duas colheres, uma
chaleira de prata, um casaco velho" e dezenas de milhares de almas, salvas
em épocas de grande decadência espiritual.
A
tocha em Epworth foi arrebatada do fogo, em Aldersgate e Fetter Lane começou a
arder intensamente, e continua a iluminar milhões de almas no mundo inteiro.